"A notícia da impossibilidade de ter filhos é o maior dos desafios para um casal que se ama. De um dia para o outro, o futuro acorda comprometido. E ameaçador. Dois condenados a ser dois, com vontade de ser mais, é sempre muito pouco."
Trecho do livro da jornalista Sandra Moutinho, “Tudo por um Filho”.
Trecho do livro da jornalista Sandra Moutinho, “Tudo por um Filho”.
O centro comercial decorado com motivos natalícios está apinhado de pessoas que apressadamente percorrem os corredores do mesmo, muitos casais, alguns com crianças, muitos provavelmente de férias, um constante entrar e sair das lojas, a maioria das pessoas com sacos nas mãos…no meio daquelas pessoas um homem destoa pelo modo vagaroso como caminha, talvez motivos de saúde o impeçam de acompanhar os outros, talvez não os queira acompanhar, talvez…
O homem sobe ao último piso, dirige-se a um dos muitos balcões que vendem comida e pouco depois já com um tabuleiro na mão com alguns alimentos que serão o seu almoço vai sentar-se numa mesa.
Enquanto come o homem olha em seu redor, perto donde se sentou quase todas as mesas estão ocupadas, em quase todas há crianças, conta 5 carrinhos de bebé…os seus pensamentos voam para outra cidade à mais de 300 quilómetros de distância, para outro centro comercial, para outro espaço de restauração, para uma mesa sem crianças onde estavam sentados um homem e uma mulher, também por perto crianças, carrinhos de bebé, também os enfeites de natal...o último do século passado...
O choro de um bebé traz de novo o homem para este ano de 2008, olha o bebé e sorri com as tentativas da mãe para o fazer deixar de chorar, acaba rapidamente de comer e sai para a rua.
O homem volta depois a pé para o seu local de trabalho, enquanto sobe a avenida pega no telemóvel e liga para casa, é a sua “menina de ouro” que o atende, também ela de férias da creche e por isso em casa com a mãe, enquanto continua a caminhar o homem fala com a menina e pergunta-lhe pela mamã…
Depois desliga o telemóvel, senta-se num banco da avenida e fica ainda algum tempo até retomar o caminho, pensa na próxima vez que vai descer a avenida a correr, pensa na primeira vez que desceu a correr aquela avenida e da chegada triunfal aos Restauradores, foi também no Natal, o do ano de 1975, quando ele ainda rapazinho não sonhava ainda em correr maratonas, quando ele ainda não imaginava a “maratona” que um dia seria forçado a correr.
Nesse dia à noite o homem vai correr, algo que faz quase “religiosamente” 3 vezes por semana, enquanto corre pensa nas maratonas que já correu e nas que pensa já correr e isso faz com que se sinta feliz, pensa também e ainda na “outra maratona”, no longo caminho não desejado e solitário, ainda que feito a dois, caminho cheio de dor e sofrimento…depois sorrindo pensa na noite em que o tempo por breves instantes parou quando a “menina” nasceu, a noite do dia 25 de Julho de 2004, no dia em que passavam precisamente 26 anos sobre uma outra grande vitória, a primeira, de seu nome Louise…
Nota) Ainda que muito provavelmente quem passar por aqui não vai entender nada do que eu escrevi…dedico este meu "post” aos companheiros de outras maratonas, os casais que não podem ter filhos.
O homem sobe ao último piso, dirige-se a um dos muitos balcões que vendem comida e pouco depois já com um tabuleiro na mão com alguns alimentos que serão o seu almoço vai sentar-se numa mesa.
Enquanto come o homem olha em seu redor, perto donde se sentou quase todas as mesas estão ocupadas, em quase todas há crianças, conta 5 carrinhos de bebé…os seus pensamentos voam para outra cidade à mais de 300 quilómetros de distância, para outro centro comercial, para outro espaço de restauração, para uma mesa sem crianças onde estavam sentados um homem e uma mulher, também por perto crianças, carrinhos de bebé, também os enfeites de natal...o último do século passado...
O choro de um bebé traz de novo o homem para este ano de 2008, olha o bebé e sorri com as tentativas da mãe para o fazer deixar de chorar, acaba rapidamente de comer e sai para a rua.
O homem volta depois a pé para o seu local de trabalho, enquanto sobe a avenida pega no telemóvel e liga para casa, é a sua “menina de ouro” que o atende, também ela de férias da creche e por isso em casa com a mãe, enquanto continua a caminhar o homem fala com a menina e pergunta-lhe pela mamã…
Depois desliga o telemóvel, senta-se num banco da avenida e fica ainda algum tempo até retomar o caminho, pensa na próxima vez que vai descer a avenida a correr, pensa na primeira vez que desceu a correr aquela avenida e da chegada triunfal aos Restauradores, foi também no Natal, o do ano de 1975, quando ele ainda rapazinho não sonhava ainda em correr maratonas, quando ele ainda não imaginava a “maratona” que um dia seria forçado a correr.
Nesse dia à noite o homem vai correr, algo que faz quase “religiosamente” 3 vezes por semana, enquanto corre pensa nas maratonas que já correu e nas que pensa já correr e isso faz com que se sinta feliz, pensa também e ainda na “outra maratona”, no longo caminho não desejado e solitário, ainda que feito a dois, caminho cheio de dor e sofrimento…depois sorrindo pensa na noite em que o tempo por breves instantes parou quando a “menina” nasceu, a noite do dia 25 de Julho de 2004, no dia em que passavam precisamente 26 anos sobre uma outra grande vitória, a primeira, de seu nome Louise…
Nota) Ainda que muito provavelmente quem passar por aqui não vai entender nada do que eu escrevi…dedico este meu "post” aos companheiros de outras maratonas, os casais que não podem ter filhos.
20 comentários:
Olá António,
Visitar o seu blog dá sempre direito a um momento de reflexão. Obrigago e continue a proporcionar-nos estes momentos.
Um Feliz Natal !
Olá António,
Visitar o seu blog dá sempre direito a um momento de reflexão. Obrigado e continue a proporcionar-nos estes momentos.
Um Feliz Natal !
António,
A vida tem muitas curvas e esquinas para dobrar. Como na maratona, o importante é a nossa determinação e a nossa fixação no "grande" objectivo. É isso que nos dá força para resistir aos embates mais difícies e para ultrapassar as dificuldades mais imprevistas.
Um grande abraço para ti, para a Isabel e para a Vitória e votos de Feliz Natal deste teu amigo
MPaiva
Amigo António
Trata-se certamente de uma homenagem a alguém que o merece e que vai certamente saber reconhecer este seu gesto.
A esta Maratona a que se refere deveria corresponder a respectiva medalha a quem dedica um espaço do seu tempo a divulgar esta história de vida (uma de entre tantas)e enche de algum alento alguns que sofrem em silêncio.
Um abraço
Olá, António.
Gostei muito deste texto com que recorda uma fase certamente terrível da sua vida.
Felizmente passou e tem uma família encantadora e companheira, sempre pronta a "cortar as metas" que vai tendo vida fora.
Grande abraço e votos de um Natal cheio de felicidades.
FA
Olá António!
Que o caminho daqueles que sofrem em silêncio seja iluminado.
Admiro a determinação daqueles que acreditaram e conseguiram a sua “Vitória”.
Uma vida em família com muito amor e carinho é o que vos desejo.
Esta é uma pequena dedicatória para o homem que corre:
http://br.youtube.com/watch?v=2d4bWNV8G6I
Aproveito também para vos enviar votos de um santo e feliz Natal junto dos que mais amam.
Luís Mota, Susan, Mariana e luís Carlos
correr para olhar a vida com calma...
Só não entende quem não quer.
Abraço muito grande.
Olá António,
Bonito texto, ensejo para reflectir sobre a vida, o que ela nos dá e o que ela nos tira.
Vitória é, seguramente, o nome apropriado para a sua pequena Vitória.
Continue a partilhar connosco estas experiências enriquecedoras.
Um bom Natal para si e para todos os que lhe são queridos.
José Alberto
Amigo António,
É uma maratona para correr com calma e sem pressas. Espero também um dia chegar à meta desta.
Feliz natal.
Ola AAntonio.. parabens pelo texto, revi algo da minha vida. Desejo festas felizes para ti e familia... abraços
António, belo texto e reflexão. Bem apropriada para o sentido de Natal. Obrigado!!! Agradeçamos aos céus a alegria de nossas famílias. E vibramos em uníssono pelos que estão nas pelejas da maratona. Feliz Natal para vc e os seus.
Fazer uma maratona nem é muito difícil, basta acreditar. Para se ter um filho por vezes é mais difícil, mas também é preciso acreditar.
Boas Festas para toda a família Almeida.
JCBrito
*Encontramo-nos na S. Silvestre
António,
Muito obrigado e um óptimo Natal para si e para os seus! Boas corridas e óptimas entradas em 2009 :)
agradeço as vossas palavras bem como os votos espressos em relação à época festiva.
Forte abraço,
António Almeida
Nossa vida é cheia de maratonas e certamente muito antes de você começar a corre-lás no sentido mais figurado com short, camiseta e tênis você já tenha participado em muitas outras. Parabéns pelo relato.
Abraços, bons treinos e excelentes corridas.
António,
li o que sugeristes e gostei imensamente. Obrigada. Também apreciei o poema abaixo do grande Pessoa.
24 e 25 ja passaram.
Um abraço
Amigo António,
Gostaria de convidá-lo para a cerimónia de inauguraçao do meu blog (www.josequetambemcorre.blogspot.com).
Passe por lá e beba uma taça.
Um abraço amigo
José Alberto
António que palavras lindas, parabéns pela homenagem.
Grande ano de 2009 a toda a família
Saúde, amor e muitas corridas
Bons treinos e melhores corridas
Fátima Vieira
Samuel, Ms Harkins, José Alberto e Fátima,
obrigado pelas palavras, voltem sempre.
Forte abraço,
António Almeida
Boas António...
Só agora li este texto e deixou-me contente...
Continuação de bons treinos para esta maratona... de facto esta é bem mais simples...
Abraço
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