Praça dos Restauradores - Chegada da Corrida.
Tento não fazer barulho para não as acordar enquanto me preparo para sair de casa, o que faço pouco depois das 8h30m, entro no carro e sintonizo uma estação de rádio antes de iniciar a breve viagem até Lisboa, onde tenciono deixar o carro e ir de metro até à Pontinha para participar na "Corrida da Liberdade".
Como habitualmente para um dia feriado e aquela hora o trânsito é reduzido, quase sem paragens pelo caminho chego à Ponte 25 de Abril, enquanto a atravesso saboreio aquela vista deslumbrante da Capital.
Cresci com a cidade de Lisboa no horizonte do meu olhar de criança…só muitos anos depois já adulto me aperceberia verdadeiramente disso.
Entro na cidade pela zona das Amoreiras, passo pelo Marquês do Pombal e começo a descer para os Restauradores...ainda não são 9h e a cidade dorme também ela ainda.
Resolvo estacionar o carro perto do cinema São Jorge na Avenida da Liberdade e dirijo-me para a estação do metro…o silêncio típico aquela hora de um qualquer domingo ou feriado em Lisboa é quebrado…no ar soa a voz de Paulo de Carvalho…
"E depois do amor,
E depois de nós,
O adeus
O ficarmos sós."
… que é transmitida pela instalação sonora de um carro que sobe para o Marquês do Pombal (julgo que era um carro da organização da corrida).
"E Depois do Adeus", a bonita canção com que Paulo de Carvalho representou Portugal na Eurovisão em 1974 e que para sempre ficará ligada à Revolução dos Cravos por ter sido a primeira das senhas do Movimento das Forças Armadas, a qual deu início às operações militares que conduziriam à queda do anterior regime durante o dia 25 de Abril de 1974.
Naquele lugar sem nome para qualquer fim
Uma gota rubra sobre a calçada cai
E um rio de sangue dum peito aberto sai
O vento que dá nas canas do canavial
E a foice duma ceifeira de Portugal
O som da bigorna como um clarim do céu
Vão dizendo em toda a parte o pintor morreu
O pintor morreu
O pintor morreu
O pintor morreu
O pintor morreu"
O pintor era José Dias Coelho, assassinado pela PIDE, em 19 de Dezembro de 1961, em Lisboa.
Após fazer a inscrição (grátis) para a corrida e colocar o dorsal inicio o aquecimento.
Faço 15 minutos de corrida após o que realizo alguns exercícios de alongamentos, tempo durante o qual a organização da corrida comunica que a partida que estava marcada para as 10h30m é adiada em 10 minutos.
No ar sempre canções de intervenção, canções que também elas contribuíram e muito para a Liberdade conquistada em 25 de Abril de 1974.
Passa das 10h30m e a quase totalidade dos atletas estão nas imediações da zona de partida situada em frente ao Quartel da Pontinha, é tempo de breves discursos, no ar surgem cravos vermelhos empunhados por alguns atletas, dão-se vivas ao 25 de Abril e ouvem-se palmas, a música que durante os últimos minutos tinha estado ausente volta de novo a ouvir-se…
"Grândola, Vila Morena
Terra de fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade"
A partida da 30ª Corrida da Liberdade" dá-se quase de seguida, tento encontrar o meu ritmo, a PSP impecavelmente tem o trânsito cortado à passagem da corrida formando-se pequenas filas de carros, nas ruas por onde vamos passando algumas pessoas olham mas como habitualmente acontece não incentivam, corro agora na 2ª circular, a parte do percurso que menos gostei que no seu todo é um excelente "passeio" por Lisboa, especialmente a partir da zona do Campo Grande.
Passo pelos túneis situados na zona de Entrecampos e Campo Pequeno, corro agora na Avenida da República e já vislumbro a zona da Saldanha, onde passo pouco depois.
25 de Abril Sempre!