sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ao Miguel, no seu 4º Aniversário, e contra o Nuclear, Naturalmente

Vais crescendo, meu filho, com a difícil
luz do mundo. Não foi um paraíso,
que não é medida humana, o que para ti
sonhei. Só quis que a terra fosse limpa,
nela pudesses respirar desperto
e aprender que todo homem, todo,
tem direito a sê-lo inteiramente
até ao fim. Terra de sol maduro,
redonda terra de cavalos e maçãs,
terra generosa, agora atormentada
no próprio coração; terra onde teu pai
e tua mãe amaram para que fosses
o pulsar da vida, tornada inferno
vivo onde nos vão encurralando
o medo, a ambição, a estupidez,
se não for demência apenas a razão;
terra inocente, terra atraiçoada,
em que nem sequer é já possível
pousar num rio os olhos de alegria,
e partilhar o pão, ou a palavra;
terra onde o ódio a tanta e tão vil
besta fardada é tudo o que nos resta;
abutres e chacais que do saber fizeram
comércio tão contrário à natureza
que só crimes e crimes e crimes pariam.
Que faremos nós, filho, para que a vida
seja mais que a cegueira e cobardia?

Eugénio de Andrade
(Fundão, 19 de Janeiro de 1923 - Porto, 13 de Junho de 2005)

Nota) Palavras do poeta Eugénio de Andrade, palavras muito actuais neste Portugal de...2008.
Post dedicado à Vitória, no seu 4º Aniversário, e contra o Nuclear, Naturalmente.

1 comentário:

Jorge Cerqueira Souza Filho disse...

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Linda a crônica que vc postou aqui meu amigo corredor e Parabéns atrasado a sua filha Victória que Deus possa abençoar e iluminar os caminhos dela a cada dia e torço para que no futuro ela siga os passos do pai.
Continuação de boas passadas.
Um abraço,
Jorge Cerqueira
www.jmaratona.blogspot.com