quinta-feira, 2 de julho de 2009

Viver sempre também cansa.

O sol é sempre o mesmo e o céu azul
ora é azul, nitidamente azul,
ora é cinzento, negro, quase-verde...
Mas nunca tem a cor inesperada.

O mundo não se modifica.
As árvores dão flores,
folhas, frutos e pássaros
como máquinas verdes.

As paisagens também não se transformam.
Não cai neve vermelha,
não há flores que voem,
a lua não tem olhos
e ninguém vai pintar olhos à lua.

Tudo é igual, mecânico e exacto.

Ainda por cima os homens são os homens.
Soluçam, bebem, riem e digerem
sem imaginação.

E há bairros miseráveis sempre os mesmos,
discursos de Mussolini,
guerras, orgulhos em transe,
automóveis de corrida...

E obrigam-me a viver até à Morte!

Pois não era mais humano
morrer por um bocadinho,
de vez em quando,
e recomeçar depois,
achando tudo mais novo?

Ah! se eu pudesse suicidar-me por seis meses,
morrer em cima dum divã
com a cabeça sobre uma almofada,
confiante e sereno por saber
que tu velavas, meu amor do Norte.

Quando viessem perguntar por mim,
havias de dizer com teu sorriso
onde arde um coração em melodia:
"Matou-se esta manhã.
Agora não o vou ressuscitar
por uma bagatela."

E virias depois, suavemente,
velar por mim, subtil e cuidadosa,
pé ante pé, não fosses acordar
a Morte ainda menina no meu colo...

José Gomes Ferreira

Nota) Mais sobre o poeta aqui e aqui.

5 comentários:

Fernando Andrade. disse...

Lindo, António!

Simplesmente fantástico.

Obrigado por este momento.
Abraço.

FA

Unknown disse...

Maravilhoso Texto.... muito profundo e realista!!!


Foram minutos de reflexão !!!

Abraços !!!

FREE ATLETA disse...

Muito bom mesmo !!! Bons treinos amigo...

Unknown disse...

Como sempre, um grande poema...

José Alberto disse...

Olá António,

Muito lindo este texto. Obrigado por no-lo trazer e por nos oferecer estes momentos de reflexão.

Obrigado, também, pelos seus comentários no meu blog. E a sua preparação para o Porto, já vai a caminho?

Abraços
José Alberto