quinta-feira, 19 de abril de 2012

As minhas LXVII Millas Romanas (II).

2º Circuito - "Proserpina" - 27,7 km
Na hora de recomeçar senti algum frio em especial nas mãos pelo que decidi calçar as luvas. Nessa fase inicial em que percorremos algumas ruas de Mérida passámos bem perto do hotel onde estávamos alojados, pensei na Isabel e na Vitória…
Após passarmos perto do Aqueduto de São Lázaro uma subidinha ainda em alcatrão e logo de seguida a entrada em trilhos, apesar de largos e não muito íngremes o piso muito irregular aliado à escuridão obrigavam a redobrada atenção de onde se colocavam os pés, a dada altura dessa fase da subida optei por passar a marchar o que me custou ter descolado dos meus dois companheiros que mantiveram o passo de corrida. Pouco depois de ter ficado só "apanhei" o Paulo Fernandes que seguia a passo também ele com dificuldade em progredir naquele tipo de piso. Algumas palavras trocadas com ele e aos poucos fui-me adiantando, as fitas embora espaçadas iam sendo suficientes para seguir o trilho certo ao que também ajudou em muito os pequenos reflectores colocados ao longo do percurso.
Já na fase seguinte ligeiramente a descer "carimbei" a primeira das quedas por terras de "nuestros hermanos", depois de me levantar olhei a zona do joelho esquerdo (pelo menos não tinha sido em cima da mazela antiga) e, apesar da ferida apresentar alguma terra à mistura, sem água (só tinha comigo aquarius) só me restava continuar até ao abastecimento que se seguiria para pelo menos limpar minimamente a ferida
Ao recomeçar a correr apesar da natural dor do joelho senti que não seria impeditivo de continuar, do mal, o menos…
Continuei sozinho até ao abastecimento seguinte (casa de campo), a escuridão continuava total, o piso já não tão irregular ia-me permitindo de vez em quando fazer períodos a correr.
Ao chegar ao ponto de abastecimento e de controlo já o Bossa e o Prates se preparavam para continuar, eu a primeira coisa que fiz foi pegar numa garrafa de água e lavar a ferida, pedi depois se havia algo para pôr na ferida, uma das pessoas da organização que lá estavam foi buscar um tubinho (penso que de betadine ou algo parecido) e limpou-me a ferida, bebi água e depois peguei numa banana e segui a passo enquanto a ia comendo…
Corri nessa fase sempre só, no escuro da noite de vez em quando vislumbrava a luz intermitente de um ou outro participante dos que iam à minha frente, viria a "apanhar" um desses participantes na chegada à zona do lago que surgiu de mansinho, lago imensamente grande pareceu-me, nessa zona plana e em que iam existindo pontos de iluminação passei ainda um outro participante vindo a alcançar depois o Jorge Pereira que seguia com algumas dificuldades, tentei-o animar mas achava ele então que provavelmente seria a primeira vez que não ia terminar e infelizmente assim foi.
Pouco depois cheguei ao ponto de abastecimento e de controlo (Lago de Proserpina), por lá ainda estava o José Simões, o que estranhei pois não me parecia ter vindo a recuperar tanto que tivesse dado para o apanhar, após uma breve pausa para mais uma vez "carimbar", comer e hidratar retomei o passo de corrida, com pouco mais de 10 quilómetros para regressar de novo ao pavilhão tentei então impor um ritmo razoável o que terei conseguido pois viria a ultrapassar alguns participantes entre os quais o José Simões que seguia com dificuldades provavelmente derivadas do seu jantar tardio segundo ele, dei-lhe então uma palavra de alento e segui mas mais tarde e já bem perto de Mérida foi a vez dele me apanhar, seguimos então juntos e já no interior de Mérida viríamos a ter ainda a companhia de outros 2 ou 3 companheiros, nessa fase passámos bem perto da Plaza de España, o local de onde tinhamos partido há umas horas e onde contava chegar na manhã de sábado e, apesar de altas horas da madrugada nas "calles" de Mérida existia ainda bastante movimentação do pessoal da noite. 
Chegámos ao pavilhão, os primeiros 55 quilómetros estavam feitos, tratei de ir comer, bebi então coca-cola, conversei um pouco com o José Simões que me ia dizendo que já começava a sentir-se melhor (o que se viria a confirmar estar certo já que a partir dai nunca mais o vi), segui depois para o curativo que se impunha, tratei depois de ir mudar de camisola e de meias (falei com o Prates que tinha acabado de devolver a mochila e preparava-se para continuar, o Bossa também por lá estava), voltei à sala de entrada na esperança de ainda por lá estar o José Simões mas este já tinha saído pelo que me vi sem companhia nesta última saída de Mérida, olhei a sala praticamente vazia de participantes, ainda com 45 quilómetros para percorrer pensei então que não ia ter muita companhia nas próximas horas.
[continua]

2 comentários:

mariolima52 disse...

Olá António

Estou a ler esta tua aventura em terras Emerita Augusta, grande centro romano e que os miliários continuam a serem uma referência desse povo que mudou a história.

Mérida com um grande legado romano, fez de ti um valente centurião para vencer as LXVII millas.

Curiosa essa prova. Uma descrição excelente do que tiveste que enfrentar e vou aguardando pelo epílogo desta prova.

Grande Abraço!

joaquim adelino disse...

Grande António, estou a acompanhar a Odisseia, apesar das mazelas acredito que a 2ª parte foi bem melhor, venha a história. Abraço.