quarta-feira, 29 de julho de 2009

Ultra Maratona Atlântica (II - Palavras "continuação")

Os primeiros quilómetros não foram nada fáceis mas já contava com isso, à passagem ao km 5,5 (Praia da Aberta Nova) o apoio familiar e amigo sobre a forma de fortes incentivos (o único permitido já que o "raid" é uma prova em auto-suficiência) da Vitória, da Isabel, da Susana e do Daniel, também as primeiras notícias do Adelino, que já por ali tinha passado fazia algum tempo.
Nos quilómetros seguintes foram melhorando e muito as condições para correr, eu como aconteceria durante toda a prova continuava a correr "isolado", foram quilómetros fáceis os que me levaram a passar pelas Praias da Galé (8,5 km), Pinheiro da Cruz (14,5 km) e Pego (18,5 km), quilómetros durante os quais desfrutei em pleno da beleza quase paradisíaca do percurso, o sol ia-se juntando cada vez mais fortemente à festa e a certa altura pensei que o mesmo já estava-me a causar algum efeito nefasto (apesar do chapéu na cabeça) quando ao longe me pareceu estar a ver uma pessoa como Deus a trouxe ao mundo (como se costuma dizer), mas afinal estava tudo bem comigo…
À medida que os quilómetros se sucediam ia aumentado o número de pessoas no areal, algumas iam incentivado, quando já começava a estranhar a "ausência" do apoio familiar e amigo eis que este marcou presença à passagem pela Praia do Carvalhal (20 km), a Vitória durante alguns metros correu ao meu lado, tempo também para saber mais algumas notícias do Adelino, segundo o Daniel ia muito bem.
Nessa fase da corrida sentia-me também eu muito bem mas resolvi continuar num ritmo confortável e que me permitisse não parar de correr lá mais para diante (receava que tal viesse a acontecer consciente que estava da minha insuficiente preparação para a prova e da dureza dos primeiros quilómetros corridos).
Até à Praia da Comporta (28,5 km), local do único abastecimento durante a prova (1 litro de água), continuei ainda a correr sem qualquer dificuldade, dei-me até ao "disparate" de à medida que continuava a correr devolver algumas das bolas "perdidas" de alguns dos habituais jogos de futebol no areal.
Apesar de continuar com um ritmo bastante baixo ainda ia dando para ultrapassar alguns dos "raiders" que já iam acusando algumas dificuldades, continuavam os incentivos vindos das pessoas que estavam nas praias, a dada altura ouço mesmo alguém dizer "força Almeida", ainda pensei que era alguém conhecido tendo-me virado para ver quem era mas não reconheci a pessoa, então é que me lembrei que tínhamos o nome no dorsal.
Passei ainda na "maior" pela bandeira com a indicação do "km 30", nessa altura acreditava que manteria até final o meu passo de corrida, suficiente ainda para continuar a passar mais alguns "raiders", muitos dos quais já só a caminharem, contudo à medida que os quilómetros foram avançando comecei também eu a sentir algumas dificuldades, o que me levou então a traçar como próximo objectivo manter pelo menos o passo de corrida até à praia de Soltróia (km 37,5), o que efectivamente consegui e onde cheguei com 4h38' de tempo de corrida, logo depois parei de correr e passei a caminhar, o que fiz durante alguns minutos, após o que retomei a corrida e assim sucessivamente…
Por essa altura já a Isabel desesperava por não me ver chegar e ligou-me para o telemóvel, disse-lhe na altura que devia estar perto do 40º km, e de facto estava já que quase de imediato vislumbrei a bandeira que assinalava essa distância.
Eu continuava a tentar alternar minutos de corrida com minutos de marcha e se inicialmente os de corrida era largamente superiores aos de marcha, nos últimos 3 quilómetros da prova acho que andei muito mais do que aquilo que corri.
Nesses últimos quilómetros e numa das vezes em que os minutos eram de corrida alcancei o Andrade que seguia a passo e ia olhando o mar, troquei algumas palavras com ele tendo-me ele dito para seguir o que eu fiz mas pouco depois era a minha vez de caminhar e foi então a altura de se inverterem as posições, o Andrade passou por mim a correr e disse-me para seguirmos, eu ainda ensaiei um ritmo de corrida mas parei quase de seguida e segui a passo, nem mesmo a visão paradisíaca do pórtico de chegada me fez ganhar forças e continuei a passo.
Por essa altura já a Isabel me tinha ligado de novo para o telemóvel, eu só lhe dizia que estava quase, que até já via e bem perto a linha de chegada, tendo desligado de seguida e retomado por fim o passo de corrida, em pouco tempo avistei a Isabel e a Vitória e logo depois era autenticamente "rebocado" pela Vitória até à desejada linha de chegada.
Terminei com 5h28'19'', tendo-me classificado no lugar 102 da geral e em 16º e último do meu escalão (Veterano III).
Logo depois na zona de recuperação e de acolhimento dos atletas que iam chegando o reencontro com os companheiros de aventura e do dia de domingo, o Adelino estava com algumas câmbrias mas nada que um "duro" como ele não suportasse, a Susana é que se mostrava bastante preocupada…
Tempo de descansar, de saborear a fruta posta à disposição dos atletas, a melancia estava deliciosa, devorei uns quantos bocados.
Passado algum tempo em que recuperámos do esforço abandonámos o areal e pouco depois ainda em Tróia foi tempo de recuperar as calorias perdidas e de cantar os parabéns ao Daniel que fazia anos.
Ao final da tarde iniciámos a viagem de regresso a casa, parámos na estação de serviço de Alcácer do Sal para um cafézinho e para nos despedirmos dos nossos companheiros (Joaquim, Susana e Daniel) de um domingo que no arquivo de memórias do corredor vai direitinho para "dias muito felizes", decerto que outros virão...
Voltarei um dia a partir de Melides com destino a Tróia.
Uma palavra final de parabéns para a Câmara Municipal de Grândola e respectiva Divisão de Desporto pela excelente organização.

14 comentários:

João Paixão disse...

É muito duro, não é, António?
Eu felizmente tenho tido a consciência da minha condição e nem nunca pensei em fazer o Raid, mas um dia...
Parabéns, amigo. Quem termina isso é sempre um herói. Eu fiz 18 kms na Fonte da Telha e estava um calor...

MPaiva disse...

António,

Esta é uma prova que passou a estar nas minhas prioridades para futuro. Um dia também hei-de experimentar essas sensações, vontade que ficou bem mais vincada depois de ler os testemunhos de quem a fez!

Mais uma vez os meus parabéns!

abraço
MPaiva

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

Parabéns António! a começar pela coragem de participar.

Um beijinho para vós e boas férias se for caso disso

Ana Pereira

José Alberto disse...

Amigo António,

Parabéns pela prova e pela maneira como a superou.

Parabéns, também, pelo relato.

Abraço

José Alberto

.JOSÉ LOPES disse...

Caro António

Renovo os meus parabéns pela "fibra" demonstrada nesta duríssima prova.

Todos os que participaram neste Raid, são um exemplo para os atletas que correm por este País.

Lamento que a comunicação social (tv e jornais)deste País em relação ao Desporto só mostre os jogadores de futebol a fazerem coisas triviais.


Com os cumps
J.Lopes

Boas férias

joaquim adelino disse...

Olá amigo António.
Parabéns mais uma vez por ter participado e ainda mais por ter concluído (outra coisa não seria de esperar) esta duríssima prova.
O relato está perfeito e demonstra que não estava assim tão mal em termos físicos. Penso que as dificuldades porque todos passámos no final da prova tem a ver com a parte inicial onde foram gastas energias em excesso e que não contávamos, principalmente os primeiros 5 kms.
Foi muito importante o apoio que fomos recebendo ao longo de algumas praias dos nossos familiares, foram incentivos que nos momentos de alguma dificulade
souberam muito bem e ajudou a animar.
Desejo agora que faça uma boa recuperação fazendo a respectiva descompressão pelo manos durante esta Semana.
Um abraço para toda a família.

Anónimo disse...

Olá António e Meninas
Parabéns pelo feito, és um Ultra de pleno e conquistado mérito.
Fantástico! OBRIGADO pela referência, de facto, numa ultra, devagar é o mote (acredito, pois ainda não me estreei nas andanças :)
Um forte abraço, até breve
AB - Tartaruga

Anónimo disse...

Ah!
E beijos à família, que está em todas, e que é um suporte fenonal para o GRANDE, ENORME atleta.
Vocês são um must!

Abraço e Beijos

AB - Tartaruga

Fernando Andrade. disse...

Mais uma vez, Parabéns, amigo Antóni. Pela prova e pelo relato.
Esta, de facto, é uma prova em tudo diferente das outras.
Para mim, tem lugar de topo na escala das preferências. A pouco e pouco, estou convencido, vai ganhando adeptos.
Grande Abraço.
FA

Mark V disse...

Olá António

Parabéns por ter completado esta ultra e pelo relato demonstrador da dureza da prova!
Agora segue-se a Comrades! :D

Abraço

MV

José Xavier disse...

António;

Bela prova!!!..excelente relato.

Um abraco

José Xavier

Ricardo Baptista disse...

Grande António,
Parabéns pelo relato. Esta era uma daquelas provas que digo: um dia faço! e pelo que dizem, não vou ficar desapontado com ela. Um dia vou estar presente, agora com muito mais vontade.
Um abraço.

mariolima52 disse...

António

Depois de ler o tema do Adelino e ler o teu, as dificuldades, a vontade e o querer em acabar, correndo ou andando é de louvar. Ainda mais sabendo que não tinhas feito nenhuma preparação especial para esta prova.

Estou quase a apostar comigo que farei um dia esta prova, deve ser um momento único, deve ser daquelas provas que se maldiz “milhentas” vezes e se pergunta o que fazemos ali, que aquele não somos nós tal o cansaço que este tipo de provas nos oferece chegando quase ao limite da resistência humana.

Quando fiz a minha 1ª maratona também dizia: «Maratonas, nunca mais!» mas, no ano seguinte, lá estava eu de novo no local de partida.

138 acabaram a prova de 141. Não há dúvida que uma pequena Vitória faz a diferença. Com a Vitória pela mão foram duas as vitórias conseguidas nesta prova.

Parabéns!

Alexandre Duarte disse...

Sabe bem ler estas palavras António.
Para mim, estreante em Melides, avisam para os cuidados a ter no próximo dia 1, mas servem igualmente de incentivo para o esforço que irei fazer nesse dia para ultrapassar as dificuldades que igualmente o António ultrapassou.
Até lá.