sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A Flor.

Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção , outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase que não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era de mais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!
Almada Negreiros - A invenção do dia claro

Um bom fim-de-semana com boas corridas e boas leituras.

2 comentários:

ana paula pinto disse...

:-))

Lindas as flores que se "perdem", da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, numa roda-viva de idas e voltas infantis.

E disse...

texto que toca bem no coração!
ai se crescêssemos com essa delicadeza que um dia dia nos permitiu desenhar flores tão verdadeiras!