terça-feira, 11 de outubro de 2011

Uma manhã de domingo.

O homem acordou bem antes que o despertador tocasse mas passaram ainda largos minutos até que deslizasse para fora da cama.
De véspera já o homem tinha deixado preparado tudo aquilo que ia precisar e não fosse o barulho da máquina de quando tirou um café que bebeu de seguida e teria a casa permanecido no mais absoluto silêncio.
Com o tempo e a prática de outras manhãs passadas o homem foi aperfeiçoando essa capacidade de se movimentar pela casa sem fazer barulho, quase sempre consegue o homem sair de casa sem acordar cada uma das duas pessoas que na casa ainda dormem.
Desce as escadas e já na rua senta-se à porta de casa onde calça os ténis que trazia na mão, de seguida e já de novo em pé coloca a mochila e liga o relógio que tem no pulso.
Decorrido algum tempo em que o homem olha esse mesmo relógio, tempo durante o qual o homem vai saltitando começa então lentamente a correr.
Tal como em outras manhãs passadas o homem segue um percurso delineado mentalmente que crê o homem o trará à porta de casa passados que sejam 25 quilómetros.

Na fase inicial o homem corre lentamente, tão lentamente que passada que foi uma hora desde que o relógio começou a contar o tempo que pouco mais de 10 quilómetros o homem correu.
Ao fim desse tempo já o homem corre numa zona ladeada por árvores, olha o mar numa altura em que o relógio lhe indica que já correu metade dos 25 quilómetros previstos, quase de seguida ataca a subida que lhe aparece pela frente, embala depois na descida, sente depois que mesmo sem forçar corre mais rápido do que esperava naqueles longos e ondulantes quilómetros a direito que se seguem.
Com 20 quilómetros já corridos confirma isso mesmo pois para as 2 horas ainda largos minutos o homem tem que continuar a correr, minutos durante os quais o homem completa 22 quilómetros de corrida.
Já na fase final que se segue tenta o homem manter o ritmo dos últimos quilómetros o que não se revela muito complicado até porque a descida que o homem faz nessa fase vem na hora certa.
Já bem perto de casa tem o homem ainda que correr cerca de 700 metros para atingir os 25 quilómetros que o homem quis correr em mais uma manhã de domingo.

Olha as 2h13' do mostrador do relógio, desliga o mesmo e tira a mochila onde transportou a água que bebeu nesse tempo.
Olha as janelas da casa, pelo estore para cima da janela da cozinha deduz que já não dormem como à hora que saiu de casa as pessoas que ainda lá ficaram, pega no telemóvel e liga para casa, diz para irem à janela, primeiro a mulher, depois a filha, acenos mútuos…
Fica depois ainda o homem algum tempo na rua, tempo durante o qual vai realizando alguns exercícios, por fim pega nas coisas que poisou no muro quando ali chegou e volta para casa.
A manhã ainda mal começou quando o homem entra em casa, de volta ao seu porto de abrigo, porto de partida, porto de chegada…

6 comentários:

Maria Sem Frio Nem Casa disse...

E ora cá temos o António Almeida que conhecemos. Belíssima descrição e belíssimo texto cheio de conteúdo.

Muito mais que um treino, muito mais que um "post", antes... um deleite para quem lê.

Beijinhos para os 3 aí de casa

.JOSÉ LOPES disse...

Olá António

O "Homem e o seu treino domingueiro" , um desfilar de "palavras de corredor" descritas neste belo texto, como já vamos estando habituados.

gostei de ler

com os cumps
J.Lopes

Amável Luz disse...

Caro Amigo António
Belo texto, belas palavras, acima de tudo belas belos sentimentos que revelam o que a vida ainda tem de bom.
Gostei de ler.
Parabéns e longa vida ao "Homem".

Ricardo Hoffmann disse...

Um salve para o homem que escreveu e viveu isso tudo.

Carlos Reforço disse...

É um gosto ler os seus escritos, caro António!

Mas, 25 km numa manhã de Domingo, é um treino que não está ao alcance de todos os homens, mesmo considerando apenas os que estão habituados a "rodar".

Boa saúde!

Alberto.

mariolima52 disse...

Amigo António

Alma de poeta.

:)

Uma bela pincelada do que não foi meramente só um treino.

Com a experiência que se tem, até a insuntentável leveze do ser perante o que fazemos para não acordar quem dorme o sono dos justos não passa de mera ficção.

:)

Abraços!