Estive lá e mais que falar da prova (nada de negativo a apontar) deixo um pouco sobre Serafim Martins, o "Rebenta-Cavalos":
Serafim Martins é
considerado um dos melhores atletas da sua época, um dos símbolos de uma
geração que marcou o atletismo em Portugal e, um ídolo na sua terra, a Costa de
Caparica. De origem humilde, nasceu no dia 1 de Maio de 1888. Desde miúdo que
gostava de correr, fazendo despiques com os seus companheiros de infância.
Começou a trabalhar aos dezassete anos e, nunca quis ter como profissão a arte
de pescador, preferiu ser peixeiro. Para ele era mais aliciante e rentável
comprar peixe na praia da Costa e comercializá-lo pelos vários vendedores
espalhados dentro e fora do concelho.
Levantava-se
cedo, para preparar o seu cavalo com as gigas para o transporte do peixe, umas
vezes para a Fonte da Telha, outras para Cacilhas ou até para Sesimbra, quando
necessário. Durante as suas caminhadas, colocava-se ao lado do cavalo,
incitando-o a acompanhá-lo nas suas corridas. Raros eram os animais que
conseguiam aguentar o desafio que as obrigações lhes exigia, chegando mesmo a
ter que mudar de cavalo todos os anos. Era no entanto, um homem com grande
dedicação e estima pelos animais, sobretudo pelos seus cavalos. Esta sua caricata
atitude, valeu-lhe a alcunha local de “Rebenta-Cavalos”, nome pelo qual era
cohecido na Costa de Caparica.
Considerado um
atleta fora do comum, devido ao seu 1,85 m de altura e 80 quilos de peso,
Serafim Martins começou muito cedo a carreira de desportista e a sua
participação nas corridas era muito apreciada pelos conterrâneos, daí ter-se
tornado num ídolo dos caparicanos em pouco tempo. Em todas as suas provas
surgiam, além dos grupos de apoiantes da Costa de Caparica, grupos oriundos de
outros lugares do concelho e de outras regiões, que queriam vê-lo correr e
ganhar. Equipando-se inexplicavelmente com o traje típico de pescador, camisa e
ceroulas de flanela atadas abaixo do joelho, Serafim Martins corria descalço, o
que representava de certo modo a sua humilde proveniência e, ficou conhecido no
mundo do atletismo como o “corredor peixeiro”.
Representando o
Grupo Sportivo da Costa de Caparica, na prova de selecção para os Jogos
Olímpicos de 1912, em Lisboa, alinhou na partida ao lado de de atletas com
maior experiência, como Francisco Lázaro. Serafim Martins deu provas de grande
valor ao longo de todo o percurso, andando sempre à frente durante 40
quilómetros, muito apoiado pelos seus conterrâneos que o incitavam. Contudo, a
investida de um cavalo assustado pela multidão, levou-o a desistir antes da
subida da Calçada do Carriche, abrindo a vitória para Lázaro, sendo este
seleccionado para os Jogos Olímpicos de Estocolmo.
A 21 de Setembro
de 1913, organizou-se a primeira “Volta à Caparica”, sendo Serafim Martins o
indiscutível vencedor. Campeão nacional olímpico, nesse mesmo ano, o atleta
caparicano venceu no Velódromode Palhavã a prova de 5.000 metros, com o tempo
de 16,56 minutos e ganhou também, o título de 10.000 metros em 36,08 minutos.
No ano seguinte, a 19 de Julho, venceu de maneira indiscutível a Maratona de
42.800 metros, em Lisboa, com o tempo de 3 horas, 6 minutos e 3 segundos, tendo
recebido como prémio um relógio em ouro, feitos noticiados em grande relevo no
jornal “Os Sports Ilustrados”. No ano de 1934, organizou-se de novo a Volta à
Caparica, estando presentes atletas de renome como Manuel Dias, Jaime Mendes,
Adelino Tavares e Joaquim Correia, entre outros. Ao ter conhecimento, Serafim
Martins que se encontrava doente, levantou-se da cama com 39 graus de febre e
foi correr, equipado à sua típica e invulgar maneira, ficando em quarto lugar.
Além da marcha,
fazia numerosas e distantes caminhadas, tendo por isso recebido a denominação
de “pedestrianista”. Considerado um marco incontornável da história do desporto
em Portugal, Serafim Martins terá alcançado os 50 melhores tempos de sempre
desde que existem as corridas no País.
Faleceu a 18 de
Agosto de 1969, sendo hoje muito recordado pela população da Costa de Caparica
e, estando imortalizado na sua toponímia. Foi considerado numa publicação da
Federação Portuguesa do Atletismo, existente na Biblioteca Nacional, como um
dos melhores de sempre do atletismo português.
Fonte: almadaonline.pt