Noite cerrada do passado domingo dia 16 de dezembro de 2007.
O homem em fato de treino sai para a rua e sente um frio cortante que lhe sabe muito bem, tem um gorro na cabeça e as mãos protegidas por luvas, faz alguns exercícios de aquecimento, coloca os "fones" nos ouvidos e selecciona a música que quer ouvir, de seguida lentamente começa a correr.
Passados alguns minutos está no terreno onde habitualmente corre, volta após volta o homem repete o mesmo caminho, sozinho como sempre.
O homem sente-se bem, sente-se calmo, sente-se livre, na sua cabeça ainda estão bem vivas as imagens do espectáculo de circo oferecido pela empresa em que trabalha, espectáculo a que assistiu na parte de tarde na companhia da mulher e da filha, recorda-se dos olhos sorridentes da sua "menina de ouro", da sua alegria, do seu entusiasmo a bater palmas aos artistas, da menina montada no pónei…
O homem corre, solto, liberto, sorri, recorda-se da noite da última sexta-feira, da alegria da menina quando entrou na tenda do outro circo a que foram, das fotos tiradas, dos balões no final do espectáculo, da menina abraçada ao seu pescoço…
Volta após volta, música após música, o homem continua a correr, o corpo quase em "piloto automático", na sua cabeça continuam a passar em "flash" imagens de outras idas ao circo, recorda-se das luzes dos anúncios nos telhados do Rossio, do coliseu, do circo recorda-se quase nada, nessa idas ao circo recorda-se do pai, da irmã, dos primos, das outras crianças filhas dos amigos dos pais, recorda-se das noites de Natal em que ainda tinha mãe, das missas à meia-noite, das prendas na chaminé nas mágicas manhãs de Natal…imagens distorcidas pelo tempo…de um breve tempo feliz…
Em cada pausa entre músicas o homem ouve o som solitário dos seus passos de corrida.
O homem recorda-se de outros Natais menos felizes, muito vagamente do primeiro que passou sem a mãe, puxa pela memória mas só se recorda da presença do pai nesse Natal de 71, pensa onde estaria a irmã mas não se lembra, as suas recordações avançam para uma noite de 24 de dezembro muitos anos depois, noite passada nas urgências do hospital, recorda-se do pai deitado na maca à espera de ser visto pelos médicos, da fria sala de espera quase vazia, da mulher, da irmã, do cunhado, da manhã do dia 25 e de um almoço triste, da visita ao pai já na enfermaria do hospital na tarde desse dia de Natal de 97…
O homem continua a correr, sente o corpo leve, sente o corpo quase a flutuar, a cabeça em turbilhão, recorda-se daqueles gélidos dias anteriores ao Natal de 99 passados no Porto na companhia da mulher em busca de serem felizes, recorda-se dos Natais em que ele e a mulher decidiram não fazer a árvore e desses pouco mais além disso o homem se recorda…
O homem recorda-se é muito bem do Natal em que ele e a mulher decidiram de novo fazer a árvore de Natal, recorda-se daquele sábado de dezembro de 2003 em que estavam a decorar a árvore, do sangue que a mulher grávida perdeu, da angústia e do medo que sentiram por estarem de novo a passar pelo mesmo que já tinham passado anos antes, recorda-se curiosamente que pela primeira vez em muitos anos não se sentiu revoltado, recorda-se da ida ao hospital, de sentir o coração a bater descontrolado, do sabor amargo da sua boca seca, da angústia enquanto o médico fazia a ecografia, das palavras do médico:
-Foi um descolamento da placenta mas está tudo bem com o bebé…
Recorda-se dos dias difíceis que se seguiram, da decoração inacabada da árvore que durante uma semana permaneceu à espera que ele a acabasse de decorar, recorda-se de a ter colocado no "hall" para que a mulher a pudesse ver do quarto onde permanecia deitada, recorda-se que nesse Natal o seu único desejo era que o bebé vivesse…
O homem continua a correr, uma voz diz-lhe que já completou 1h30 de corrida, o homem era capaz de correr mais, ele até queria correr mais mas já é tão tarde, resolve passar do seu passo de corrida para um trote ligeiro.
Na sua cabeça continuam ainda a desfilar recordações de outros Natais, os mais recentes, os mais felizes desde a sua infância, recorda-se do primeiro que passaram com a menina, do segundo, do terceiro...
Recorda-se da alegria da filha quando no início deste mês de dezembro decoraram as árvores de Natal (a da sala e a do quarto dela), recorda-se de ter sentido os olhos com lágrimas quando a menina começou a cantar canções de Natal…
Já perto de casa o homem finalmente pára de correr e enquanto faz uns exercícios de alongamentos olha as luzes de Natal nas varandas da casa onde vive, sabe que lá dentro estão as 2 pessoas que mais ama na vida, o homem sabe que vai entrar em casa e que lá tem tudo aquilo que quer neste Natal, tudo aquilo que quer da vida, o homem que corre é feliz neste Natal de 2007.
O homem em fato de treino sai para a rua e sente um frio cortante que lhe sabe muito bem, tem um gorro na cabeça e as mãos protegidas por luvas, faz alguns exercícios de aquecimento, coloca os "fones" nos ouvidos e selecciona a música que quer ouvir, de seguida lentamente começa a correr.
Passados alguns minutos está no terreno onde habitualmente corre, volta após volta o homem repete o mesmo caminho, sozinho como sempre.
O homem sente-se bem, sente-se calmo, sente-se livre, na sua cabeça ainda estão bem vivas as imagens do espectáculo de circo oferecido pela empresa em que trabalha, espectáculo a que assistiu na parte de tarde na companhia da mulher e da filha, recorda-se dos olhos sorridentes da sua "menina de ouro", da sua alegria, do seu entusiasmo a bater palmas aos artistas, da menina montada no pónei…
O homem corre, solto, liberto, sorri, recorda-se da noite da última sexta-feira, da alegria da menina quando entrou na tenda do outro circo a que foram, das fotos tiradas, dos balões no final do espectáculo, da menina abraçada ao seu pescoço…
Volta após volta, música após música, o homem continua a correr, o corpo quase em "piloto automático", na sua cabeça continuam a passar em "flash" imagens de outras idas ao circo, recorda-se das luzes dos anúncios nos telhados do Rossio, do coliseu, do circo recorda-se quase nada, nessa idas ao circo recorda-se do pai, da irmã, dos primos, das outras crianças filhas dos amigos dos pais, recorda-se das noites de Natal em que ainda tinha mãe, das missas à meia-noite, das prendas na chaminé nas mágicas manhãs de Natal…imagens distorcidas pelo tempo…de um breve tempo feliz…
Em cada pausa entre músicas o homem ouve o som solitário dos seus passos de corrida.
O homem recorda-se de outros Natais menos felizes, muito vagamente do primeiro que passou sem a mãe, puxa pela memória mas só se recorda da presença do pai nesse Natal de 71, pensa onde estaria a irmã mas não se lembra, as suas recordações avançam para uma noite de 24 de dezembro muitos anos depois, noite passada nas urgências do hospital, recorda-se do pai deitado na maca à espera de ser visto pelos médicos, da fria sala de espera quase vazia, da mulher, da irmã, do cunhado, da manhã do dia 25 e de um almoço triste, da visita ao pai já na enfermaria do hospital na tarde desse dia de Natal de 97…
O homem continua a correr, sente o corpo leve, sente o corpo quase a flutuar, a cabeça em turbilhão, recorda-se daqueles gélidos dias anteriores ao Natal de 99 passados no Porto na companhia da mulher em busca de serem felizes, recorda-se dos Natais em que ele e a mulher decidiram não fazer a árvore e desses pouco mais além disso o homem se recorda…
O homem recorda-se é muito bem do Natal em que ele e a mulher decidiram de novo fazer a árvore de Natal, recorda-se daquele sábado de dezembro de 2003 em que estavam a decorar a árvore, do sangue que a mulher grávida perdeu, da angústia e do medo que sentiram por estarem de novo a passar pelo mesmo que já tinham passado anos antes, recorda-se curiosamente que pela primeira vez em muitos anos não se sentiu revoltado, recorda-se da ida ao hospital, de sentir o coração a bater descontrolado, do sabor amargo da sua boca seca, da angústia enquanto o médico fazia a ecografia, das palavras do médico:
-Foi um descolamento da placenta mas está tudo bem com o bebé…
Recorda-se dos dias difíceis que se seguiram, da decoração inacabada da árvore que durante uma semana permaneceu à espera que ele a acabasse de decorar, recorda-se de a ter colocado no "hall" para que a mulher a pudesse ver do quarto onde permanecia deitada, recorda-se que nesse Natal o seu único desejo era que o bebé vivesse…
O homem continua a correr, uma voz diz-lhe que já completou 1h30 de corrida, o homem era capaz de correr mais, ele até queria correr mais mas já é tão tarde, resolve passar do seu passo de corrida para um trote ligeiro.
Na sua cabeça continuam ainda a desfilar recordações de outros Natais, os mais recentes, os mais felizes desde a sua infância, recorda-se do primeiro que passaram com a menina, do segundo, do terceiro...
Recorda-se da alegria da filha quando no início deste mês de dezembro decoraram as árvores de Natal (a da sala e a do quarto dela), recorda-se de ter sentido os olhos com lágrimas quando a menina começou a cantar canções de Natal…
Já perto de casa o homem finalmente pára de correr e enquanto faz uns exercícios de alongamentos olha as luzes de Natal nas varandas da casa onde vive, sabe que lá dentro estão as 2 pessoas que mais ama na vida, o homem sabe que vai entrar em casa e que lá tem tudo aquilo que quer neste Natal, tudo aquilo que quer da vida, o homem que corre é feliz neste Natal de 2007.
8 comentários:
o Homem que corre é dos de H GRANDE, porque sabe que só quem chora pode amar e que só quem vive a vida de forma plena, em tudo o que ela tem de BOM e de sobressalto, pode ser um Homem realizado.
Um Natal Sereno e Feliz para toda a família e um EXCELENTE 2008 são os meus votos.
Um abraço e até breve; um dia destes combinamos um reabastecimento ao quilómetro 5 de uma corridinha.
Com admiração,
AB
Muito bonito António Almeida!
Muito bonito mesmo! Fez-me chorar, porque às vezes basta-nos um "nada" para nos libertar as lágrimas contidas por uma dor amordaçada por tantas razões.
Um Feliz Natal para si, sua esposa e para a Vitória, com muita saúde, paz, alegria, harmonia e amor!
Feliz Natal António!
Do coração,
Ana
FEliz Natal e óptimo 2008!
José Capela
Um Feliz Natal e que, 2008 seja um ano repleto de realizações.
um abraço,
Muito obrigado aos 4 pelos votos de Feliz Natal, igualmente desejo do fundo do meu coração para vós e respectivas famílias, bem como para todos os amigos e visitantes que me têm dado o prazer de passar por aqui, um Feliz Dia de Natal e um ano de 2008 pleno de saúde, amor, felicidade e de grandes e conseguidas realizações em termos profissionais, familiares e desportivos.
Forte abraço.
António Almeida
Por aqui só hoje é que tive tempo para ler os blogs dos amigos, porque a casa está cheia de gente. Escreveste palavras muito bonitas e sei que a minha prima e a Titó sentem os mesmo. Espero que tenham tido um excelente Natal e que o Ano Novo vos traga tudo de bom. Beijinhos para os três. Meggy
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Obrigado Antonio pela msg também desejo o mesmo a vc e que em 2008 seja realizado todos os seus sonhos e também desejo a vc que em 2008 vc consiga correr boas corridas.
Ahh bonitas palavras no seu relato sobre RECORDAÇÕES DE NATAL, depois que li, achei muito bonita as palavras, PARABÉNS!!!
Um abraço,
JORGE CERQUEIRA
www.jmaratona.blogspot.com
Um abraço
Olá António,
Não conhecia o seu blog. Gostei muito. É um corredor de palavras certeiras e acertadas.
Que sorte que vocês os três têm de se terem uns aos outros.
Um bom ano de 2008 cheio de saúde, que o resto vem por acréscimo.
Beijo,
Lénia
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