segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

50 (II – Morte).

Para Sempre

Por que Deus permite
que as mães vão se embora?
Mãe não tem limite,
é tempo sem hora,
luz que não se apaga
quando sopra o vento
e chuva desaba,
veludo escondido
na pele enrugada,
água pura, ar puro,
puro pensamento.

Morrer acontece
com o que é breve e passa
sem deixar vestígio.
Mãe, na sua graça,
é eternidade.
Por que Deus se lembra
- mistério profundo -
de tirá-la um dia?
Fosse eu Rei do Mundo,
baixava uma lei:
Mãe não morre nunca,
mãe ficará sempre
junto de seu filho
e ele, velho embora,
será pequenino
feito grão de milho.







Ano: 1971
Local: Almada, Margem Sul do Tejo.


A mulher deitada na cama onde permanecia desde que voltara para casa depois de ter estado no hospital, a conversa a sós entre os dois uns dias antes, o menino a sentir que o tempo de partida estava para breve, as palavras da mãe, o menino a escutar com atenção, o desejo que ele cumpriria…
A mulher já deitada no caixão, por fim o bonito e jovem rosto da mulher a esboçar um sorriso, a noite, a última, o dia, o da despedida…
O caixão já fechado dentro do carro fúnebre, as pessoas que seguem a pé o carro, as pessoas nos passeios, as pessoas distorcidas aos olhos do menino, o sabor a sal…
O último adeus, o caixão que se fecha de vez, as cordas que os homens seguram e que o fazem descer dentro da cova, as pessoas que pegam em terra e a deitam sobre o caixão, as flores a cobrirem a cova já coberta de terra, sempre o sabor sal…

2 comentários:

Alexandre Duarte disse...

Agora sou eu que o comento António, sem mais palavras, um Gr Abraço!

E disse...

lindo texto!
e a gente, engasgado na garganta, o sabor a sal!