sexta-feira, 20 de abril de 2012

As minhas LXVII Millas Romanas (III).

3º circuito - "Los Pueblos" - 44,8 km
A minha partida para o 3º e último dos circuitos coincidiu com a partida de uma dupla de espanhóis tendo então eu decidido seguir por perto, na fase inicial repetido de novo a voltinha pelas "calles" de Mérida já feita no 2º circuito seguindo depois uma parte do percurso ao longo do parque situado junto ao rio, nessa altura apanhámos uma outra dupla que seguia a passo e que tinha saído um pouco antes de nós, rapidamente os ultrapassámos ficando eu entre as 2 duplas.
Quase de imediato entrámos num trilho, sempre a subir e muito escuro, um dos elementos da dupla que ia à minha frente à dada altura começou a distanciar-se, tentei então não perder o contacto visual com o outro, o que com o passar do tempo foi sendo mais difícil, por vezes só a luz vermelha intermitente que vislumbrava de vez em quando me dava a certeza de que ele não estava muito longe.
Na noite já longa embora não muito fria o vento cada vez mais forte ia fazendo com que a chuva que então começou a cair nos fustigasse lateralmente, nessa altura já eu tinha vestido o impermeável e ia avançando mais uma vez na completa escuridão da noite, também sem ter ninguém por perto.
Foi uma fase da prova em que senti alguma dificuldade para me concentrar de modo a vislumbrar as fitas ou os reflectores mas apesar disso nunca me perdi se bem que por vezes avançasse a medo.
Ao km 69,6 (Mirandilla) foi altura de carimbar mais uma vez, também de comer e beber, procedimento repetido ao km 78,9 (Campomanes), este situado numa sala de um equipamento desportivo (penso que se tratavam de umas piscinas) onde encontrei por lá o Sousa (das lebres) e uma dupla de espanhóis (não estou certo se a mesma com quem iniciei este 3º circuito mas penso que não), o Sousa esse estava muito desanimado com a prova mas mantinha a sua habitual boa disposição, também o apetite esse não tinha sido em nada afectado, fomos brincando com isso, a dupla da organização presente (uma senhora e um senhor) iam eles também entrando na brincadeira, só a dupla de participantes que diziam ir esperar pelo nascer do dia para continuar pareciam algo desfasados da boa disposição que ia reinando.
Numa altura em que já tinham chegado mais dois participantes o senhor da organização procedeu a uma contagem dos participantes que já então tinham carimbado e avançou com o número 29, número que nos surpreendeu pois pensávamos que seriam mais os que já por ali tinham passado, logo depois eu e Sousa decidimos continuar, altura em que senti mais o frio durante toda a noite, durante algum tempo seguimos a passo já que o Sousa não conseguia correr, ele ainda tentou mas logo viu que era de todo impossível, pelo que algum tempo depois decidi continuar, de novo sem companhia…
Aos poucos o dia timidamente começou a clarear, os largos estradões que se seguiram permitiram-me então manter largos períodos a correr, pouco depois arrumei o frontal numa altura em que o dia já tinha tomado totalmente o lugar da noite.
Cheguei pois ao ponto de abastecimento e de controlo que viria a encontrar depois, situado ao km 83,6 em San Pedro, já bem de dia mas com a companhia da chuva apesar de nessa fase não muito forte.
Já na posse de mais um carimbo, também de ter comido e bebido, pensei então que Mérida estava cada vez mais perto, continuei quase de imediato a passo a subida em alcatrão ainda no interior de San Pedro, cheguei ao cimo e lancei-me na descida que se seguiu tentando aproveitar essa ajudinha.
Na fase seguinte o percurso revelou-se extremamente monótono já que continuou em alcatrão com várias subidas e descidas a viadutos que iam surgindo pelo meio, o vento que então soprava fortíssimo e a chuva que caía intensamente e que ia sentindo qual alfinetes a picarem-me o rosto, iam dificultando ao máximo a progressão, nem nas poucas descidas que iam aparecendo a tarefa se revelou fácil, terrível esta fase da prova.
A dada altura num dos viadutos a indicação para seguirmos para a direita, aproveitando então o facto de quase não chover e do percurso se apresentar praticamente plano, consegui correr num ritmo razoável que me levou até ao último dos pontos de controlo e de abastecimento (Trujillanos, km 90,9), onde me receberam com aliás aconteceu em todos os outros ao longo das horas que tinham passado, com muita simpatia e atenção.
Logo depois segui a caminhar e a apenas 9 quilómetros de Mérida achei então que era altura de ligar para a Isabel, procurei pela Vitória, continuei a caminhar enquanto lhe ia dizendo que já tinha passado o último controlo, fiz-lhe um resumo das últimas horas, desliguei depois o telemóvel numa altura em que fui apanhado por dois espanhóis, seguíamos então já num longo estradão com sobe e desce, durante algum tempo seguimos juntos, com o passar dos quilómetros um dos espanhóis foi-se destacando, aos poucos fui também eu ganhando algum avanço ao outro dos espanhóis… 
Por fim entrei em Mérida, senti-me renascer, consegui correr rápido na rua que sabia me ia levar até à Plaza de España, vi a Isabel e a Vitória, parei de correr, a Vitória veio ao meu encontro, dei-lhe a mão enquanto a Isabel tirava uma fotografia...
...beijei-as, sorrimos, por fim “entrei” na Plaza de España, dirigimo-nos ao controlo de chegada, deram-me os parabéns, recebi o "Milliário", subimos os 3 ao palanque para as fotos, "Plaza de España" por fim conquistada decorridas que tinham sido 14h20' após a hora da partida naquele mesmo local.
Mérida revelou-se uma bela jornada que gostava de repetir um dia.

6 comentários:

Ricardo Baptista disse...

Fantástico António,
Os meus parabéns ao corredor e à equipa de apoio.
Um abraço.

Ico Bossa disse...

Aqui sentadinho, foi muito bom ler o teu relato e reviver aquela noite. Obrigado por este contributo. Um abraço.

.JOSÉ LOPES disse...

Parabéns
Deve ter sido uma experiência única,correr de noite e ver o nascer do dia.
Correr os 100 km mesmo em etapas deve ter sido duro, mas tu com a tua força mental e preparação fisica vejo que consegues vencer qualquer desafio.

Continua a fazer uma das coisas de que gostas , correr :)

com os cumps
J.Lopes

.JOSÉ LOPES disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Unknown disse...

Parabéns! deve ser show correr a noite!!!

Fábio
www.42afrente@blogspot.com

mariolima52 disse...

António

Curiosa a tua parte final

"Por fim entrei em Mérida, senti-me renascer..."

Depois de tanta canseira, depois do tempo, vento e chuva, depois de tantos km percorridos, chegar ao fim e sentir-se renascer é como tudo isso valesse a pena só pelo facto de sentir esse renascer quando o que mais devia apetecer, era dizer o "não me meto noutra".

É de campeão!

Parabéns!